
Entre os dias 1º e 4 de setembro, as Faculdades Integradas de Aracruz (FAACZ) realizaram a 7ª Semana da Psicologia, reunindo alunos, professores e convidados em uma programação diversificada e intensa, com palestras, mesas-redondas, mostra cultural e roda de conversa, que debateram o papel da Psicologia na sociedade contemporânea, passando por ética, inteligência artificial, gestão de pessoas, empreendedorismo, finanças e a urgente proteção da infância.
Dia 1º de setembro: Abertura e Reflexões sobre Ética e Técnica
O evento foi aberto oficialmente no auditório da instituição com um discurso motivacional da diretora acadêmica, professora Adriana Recla Sarcinelli: “Você não é só um aluno da Psicologia. Você é um dos futuros profissionais da Psicologia”, afirmou, lembrando que o curso é atualmente o segundo mais desejado do país. Ela enfatizou a necessidade de ser um profissional que acolhe, escuta e busca respostas humanas em um tempo em que “a sensibilidade do psicólogo é imprescindível”.

A coordenadora do curso de Psicologia da FAACZ, professora Stéfani Martins Pereira, também deu as boas-vindas aos participantes, ressaltando a vitalidade da área e o objetivo da semana: “A Psicologia está muito viva, e a nossa proposta é trazer reflexões que dialoguem com o mundo atual, em uma programação construída com a colaboração de estudantes”, afirmou. A coordenadora também participou da mesa-redonda do primeiro dia e reforçou a relevância do tema: “A gente fala muito de subjetividade na Psicologia, mas, quando perguntamos o que é, a resposta é sempre vaga. A ideia é que a gente saia daqui com um olhar mais amplo e crítico sobre o que é clínica e o que é subjetividade”, finalizou Stéfani.
Um dos momentos mais aguardados do primeiro dia foi a mesa “A Afirmação da Aposta em uma Psicologia Ética, Técnica e Plural”, com a psicóloga Júlia Carvalho Santos, mestre pela UFES e presidenta da Comissão de Ética (COE). Júlia defendeu que falar de uma Psicologia ética é falar de um olhar para a vida e para as experiências humanas. Ela alertou para o avanço do marketing sobre a área e destacou que a subjetividade não é fixa, mas uma construção histórica, social e econômica, profundamente alterada pela tecnologia. “O fenômeno das redes sociais em tempo real, por exemplo, tem trazido para a clínica adolescentes ansiosos diante da expectativa de respostas instantâneas”, pontuou Júlia.

A professora foi enfática ao afirmar que “não existe Psicologia neutra” e que o papel ético do psicólogo é sustentar uma escuta qualificada que valorize a singularidade do sujeito: “Não podemos reduzir as pessoas a diagnósticos fixos. Nosso papel é sustentar uma escuta qualificada, que compreenda a complexidade da experiência humana”, defendeu. Baseando-se em Foucault, Deleuze e Guattari, ela concluiu que “o sujeito é produto do seu tempo”. Para finalizar, usou uma metáfora poderosa: o desafio do profissional moderno é ser como um “mecânico de Fórmula 1, trocando a roda com o carro em movimento”.
Dia 2 de setembro: Inteligência Artificial e Mostra Cultural
No segundo dia, o professor do curso de Engenharia Mecânica da FAACZ, Harerton Dourado, palestrou sobre “Ferramentas de Inteligência Artificial na Escrita Acadêmica”. Ele apresentou o ChatGPT e o Google Gemini como instrumentos de apoio, comparando-os a uma calculadora, e reforçou que a autoria e a responsabilidade intelectual são sempre do pesquisador. “A IA pode acelerar tarefas, mas é você quem gera conhecimento. Nunca entregue essa responsabilidade”, alertou Harerton, destacando riscos como invenção de dados e superficialidade.

Dourado orientou o uso de plataformas confiáveis para buscas acadêmicas, como Semantic Scholar, Consensus e Google Notebook LM, lembrando da necessidade de verificar todas as referências. “O pensamento crítico é a principal competência a ser preservada”, concluiu Harerton, afirmando que o uso consciente da IA pode potencializar a produção acadêmica, desde que integrado à prática científica com transparência e rigor: “É uma baita ferramenta, mas precisa ser usada com responsabilidade. O objetivo é apoiar os estudos, e não fazer o trabalho no seu lugar”, destacou.

Após a palestra, os participantes prestigiaram a Mostra Acadêmico-Cultural, realizada na quadra poliesportiva da instituição. Estudantes expuseram trabalhos de estágios, projetos de extensão, TCCs, produções artísticas e poesias. O momento cultural contou com apresentações musicais dos alunos Luis Gustavo dos Santos Zanoni (acordeão), do 6º período de Psicologia, e Beatriz Evelen Dias dos Santos (voz), do 4º período de Psicologia, acompanhados pelos professores André Araujo Ferreira (triângulo) e Eduardo Luiz Hubner Pereira (bumbo).
Dia 3 de setembro: Gestão, Contabilidade e Carreira
As atividades do terceiro dia começaram com o professor Eduardo Hubner refletindo sobre os desafios da Psicologia nas instituições e a organização do trabalho, compartilhando experiências éticas delicadas de sua passagem por hospitais, como a comunicação de más notícias: “Essas demandas, que não eram nossas, exigiam cuidado e revelavam como a prática profissional pode ser atravessada por dilemas éticos. Essa organização passa por questões burocráticas e éticas que estão presentes em qualquer área em que atuemos”, acrescentou o docente.

Em seguida, a contadora Gilerdes Freire de Souza Silva, egressa do curso de Ciências Contábeis da FAACZ, ministrou o Workshop “Contabilidade para Psicólogas”. Com 15 anos de experiência, ela explicou que a contabilidade é um “mapa” para a gestão financeira e alertou que o MEI (Microempreendedor Individual) não é adequado para psicólogos devido ao limite de faturamento. “Ninguém passa anos na faculdade para ganhar menos de seis mil reais”, observou a contadora, recomendando a abertura de empresa no Simples Nacional com orientação contábil.

A egressa de Psicologia da FAACZ, Lorrayne Del Caro Zanoni, formada em 2023, compartilhou sua trajetória em uma roda de conversa sobre “Psicologia e Gestão de Pessoas”. Ela detalhou sua experiência em estágios, consultorias e seu atual papel na direção de talentos (gestão de pessoas), enfatizando a importância de uma seleção ética e cuidadosa nos processos seletivos. “Quanto mais cuidadosos somos na seleção, mais protegemos o candidato e garantimos que ele esteja no lugar certo”, afirmou Lorrayne.

Dia 4 de setembro: O Debate Crucial sobre a Proteção da Infância
O encerramento, no dia 4 de setembro, no auditório da faculdade, foi marcado por um debate interdisciplinar entre Psicologia e Direito sobre “Adultização Infantil e Reafirmação da Defesa da Proteção da Infância”, com a psicóloga e professora Flávia Moreira Marchiori e o professor Ronaldo Félix, coordenador do curso de Direito da FAACZ.
A psicóloga Flávia Marchiori definiu a adultização como a aceleração precoce de etapas, em que crianças assumem papéis e responsabilidades adultas. Ela citou impactos das redes sociais, da internet, da sexualização precoce, do trabalho infantil e até de coaches mirins como fatores preocupantes. “A infância é estruturada em fases. Quando aceleradas, a criança não consegue ‘digerir’ psiquicamente o que está vivendo”, explicou Flávia, baseando-se em Freud, Winnicott e Vygotsky.

Flávia apresentou dados do IBGE (PNAD 2022) que mostram que 1,6 milhão de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos trabalham no Brasil, sendo a maioria pretos e pardos (65,2%), com disparidade salarial. Os impactos emocionais, segundo ela, incluem ansiedade, estresse e a perda do direito de brincar. “Criança precisa brincar. Essa é sua função básica”, reforçou a psicóloga convidada, defendendo que “defender a infância é dever de todo psicólogo, porque é nesse período que garantimos um desenvolvimento seguro e protegido”, ressaltou Marchiori.
O professor Ronaldo Félix abordou o tema sob a perspectiva jurídica. Ele explicou que a proteção integral da criança é um dever constitucional de toda a sociedade, conforme previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Sobre a adultização, Félix ponderou que transformar o conceito em crime seria um equívoco, mas lembrou que muitas práticas relacionadas a ele, como exploração sexual e trabalho infantil, já são criminalizadas.

Ele detalhou o PL 2628/2022, em tramitação no Senado, que não cria novos crimes, mas busca prevenir e reforçar políticas públicas, especialmente no ambiente digital. O projeto prevê remoção automática de conteúdos de exploração infantil sem necessidade de ordem judicial e exige que redes sociais vinculem perfis de menores de 16 anos a responsáveis. Félix criticou a lentidão das plataformas em remover conteúdos de violência infantil e reforçou a responsabilidade dos pais como garantidores: “Os pais podem responder criminalmente por omissão”, finalizou.
Com quatro dias de intensa programação, a 7ª Semana da Psicologia da FAACZ reforçou o compromisso da instituição com a formação crítica e ética de seus alunos. O evento uniu teoria, prática e cultura em debates sobre temas urgentes, consolidando-se como espaço plural de debate e aprendizado, em que o diálogo multidisciplinar promove reflexão crítica e prepara os futuros psicólogos para os complexos desafios que encontrarão na sociedade.
Texto: Alessandro Bitti
E-mail: comunicacao@fsjb.edu.br
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Data da publicação: 08/09/2025